Jornal Correio do Sertão completa 106 anos de atividade ininterrupta
- conexaomorrense
- 17 de jul. de 2023
- 4 min de leitura

O veículo, no entanto, foi ignorado pela atual gestão, Secom e vereadores em seu aniversário

Erick Vizoki
No último dia 15 de julho (sábado) o jornal Correio do Sertão completou 106 anos de atividade. O periódico já está na quarta geração em sua administração. Fundado por Honório de Souza Pereira, em Morro do Chapéu (BA), que imprimiu e publicou sua primeira edição em 15 de julho de 1917, atualmente o jornal continua na família, agora sob o comando de Edson Vasconcelos.
A data foi comemorada modestamente, com a presença de amigos próximos, familiares, alguns assinantes e do ex-prefeito de Morro do Chapéu e Bonito, Odilésio Gomes. A presença mais ilustre, sem dúvida, foi da banda marcial da Sociedade Filarmônica Minerva, sob a regência do Maestro Alberto, que também é uma instituição centenária e intimamente ligada à história e cultura de Morro do Chapéu, criada em 1906. Para se ter uma ideia da importância histórica dessas instituições (Correio do Sertão e Filarmônica Minerva), o próprio município de Morro do Chapéu foi fundado oficialmente em 1909.

“Agradeço a Deus por mais um ano vencido, a todos os presentes, a minha família, base que me dá coragem e força para seguir em frente com essa história, e dizer a todos que o jornal Correio do Sertão não é somente um patrimônio de Morro do Chapéu e região, mas também da Bahia e do Brasil, pois trata-se de uma história viva e ainda em circulação e que deve ser preservada e mais valorizada, pois aqui em seus arquivos estão registrados 106 anos de história de nossa terra e nossa gente, como também de toda nossa região. E aqui neste momento vocês estão presenciando duas entidades mais importantes da cultura e da história de nossa Morro do Chapéu e que andam juntas, a Minerva e o Correio do Sertão”, disse, visivelmente emocionado, o editor Edson Vasconcelos.
Hoje o Correio do Sertão possui seu site oficial (clique aqui para conhecer), mas ainda mantém a tradição de distribuir, regularmente, uma versão impressa, em papel jornal, em preto e branco, no atual formato germânico (antigo tabloide).
Ninguém
Inacreditavelmente, nenhuma autoridade do Poder Público morrense prestigiou a data. A prefeitura de Morro do Chapéu não enviou sequer um representante ou mesmo uma nota de parabenização. A Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) não enviou sequer um fotógrafo e nem publicou um de seus corriqueiros “cards” nas redes sociais, sua especialidade, em homenagem ao jornal. Nem mesmo um vereador apareceu. Ninguém do Judiciário, da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), de sindicatos ou qualquer outra entidade ou instituição compareceu para render homenagens. Ninguém.
“Gestão passa... Mas as pessoas que gostam do Correio do Sertão, que sabem preservar e dar valor à história estavam ali. São essas pessoas que me dão força. Ontem não tinha ninguém da gestão para homenagear o Correio do Sertão. Ninguém. Nenhum vereador, nenhum secretário, ninguém”, desabafou o editor do histórico jornal ao Conexão Morrense em um triste depoimento por mensagem de aplicativo. Nenhum outro veículo de comunicação de Morro do Chapéu, inclusive, perdeu seu caro e precioso tempo para parabenizar o decano colega de imprensa. Ninguém.
O segundo mais antigo

O Correio do Sertão é considerado o segundo jornal mais antigo da Bahia em publicação contínua desde sua fundação, perdendo apenas pelo diário A Tarde.
O Jornal da Bahia, por exemplo, que circulou entre 1855 a 1877, talvez seja um dos primeiros jornais a ser produzido e circulado em território baiano. No entanto, em setembro de 1958, um novo jornal com o mesmo nome foi criado e teve na equipe original grandes nomes da intelectualidade baiana, como o escritor João Ubaldo Ribeiro, o cineasta Glauber Rocha e o jornalista João Carlos Teixeira Gomes, chefe de redação. O novo Jornal da Bahia foi, por muitos anos, um veículo progressista, ligado à esquerda, que fez história na imprensa da Bahia. Mas, após 36 anos e 10.679 edições, sua má reputação o fez decair, falindo em 22 de fevereiro de 1994.
Oficialmente, o jornal diário A Tarde é considerado, hoje, o mais antigo ainda em circulação, iniciado em 15 de outubro de 1912.
Paulo Sérgio opera a velha máquina tipográfica de 1917 que imprimiu as primeiras edições do Correio do Sertão. Bem preservada e aposentada, a impressora funciona até hoje. (Filmagem e edição: Erick Vizoki/Conexão Morrense).
GALERIA: O ACERVO DO CORREIO DO SERTÃO
Na ordem: A primeira edição, de 15/07/1917; A matriz tipográfica era um pesado instrumento de ferro onde as páginas eram montadas letra por letra e as imagens eram uma espécie de carimbo chamado “clichê”. Tudo era feito de metal; O Correio do Sertão mantém um museu em sua sede, com diversas edições publicadas ainda em 1917 (incluindo a primeira edição) e alguns objetos usados nos primórdios da gráfica; A pequena impressora manual era usada para a impressão de pequenos folhetos, como santinhos de luto e materiais de divulgação; Um quadro com uma foto de Honório de Souza Pereira, fundador do Correio do Sertão, permanece na parede da sede do jornal; A velha guilhotina manual, também de 1917, era usada para refilar (aparar) e cortar as antigas edições do Correio do Sertão e os impressos pequenos. (Fotos: Erick Vizoki/Conexão Morrense)
GALERIA: ALGUMAS PUBLICAÇÕES ANTIGAS
Dentre algumas das publicações históricas do Correio do Sertão, estão notícias sobre Lampião, o fim da Segunda Guerra Mundial, a chegada da água encanada e luz elétrica em Morro do Chapéu, as famosas orquídeas morrenses exportadas para Paris, a moda revolucionária e escandalosa na capital francesa e até um cavalo de bigode. (Imagens: Reprodução/Correio do Sertão)
A Filarmônica Minerva, que completará 117 anos em outubro deste ano, prestou sua homenagem ao Correio do Sertão. A banda marcial e o jornal, ambas nascidas em Morro do Chapéu, são as instituições culturais mais antigas da cidade. (Filmagem e edição: Erick Vizoki/Conexão Morrense).
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