Buscar
Bônus Social de Alfenas, criado em 2019, perde identidade original e incentiva monopólio
- conexaomorrense
- 19 de fev. de 2024
- 4 min de leitura
Cédulas de R$ 50 e R$ 100 prestigiam apenas dois empresários locais e causa transtornos aos alfenenses

Erick Vizoki
Em julho de 2019 a prefeitura de Alfenas (MG) criou o ‘Programa Bônus Social’, através do Decreto nº 2.355, de 10 de julho de 2019, durante a gestão do então prefeito Luiz Antônio da Silva (Luizinho-PT), hoje deputado estadual. O programa criou uma espécie de “nova moeda local”, que são cédulas de R$ 50 e R$ 100, que perduram até hoje. A ideia original era que a nova “moeda”, administrada com recursos da dívida ativa do município, passasse a circular e financiar o comércio local, provocando um aumento na economia da cidade. O gerenciamento da “moeda social” ficaria a cargo da Prefeitura de Alfenas, por meio da Secretaria Municipal de Fazenda e Suprimentos.

O teor do programa é um tanto complexo e confuso, e envolve secretarias municipais, entidades ligadas ao comércio local, como a Acia (Associação Comercial e Industrial de Alfenas), e diversas instituições alfenenses.
No dia do lançamento oficial do Bônus Social, que ocorreu em 8 de agosto de 2019, segundo o Blog O Corvo Veloz, além de diversas autoridades, servidores, secretários, vereadores, professores e educadores, também compareceram os proprietários dos supermercados Lacerda, Nobre, São Paulo, Big Card e Atacado Rodrigão. A presença de professores e educadores aconteceu para ressaltar a importância social do programa, que deveria beneficiar também programas de educação do município.
Questões em aberto
Em 2019 ocorreram eleições municipais e Luizinho era candidato à reeleição. No mesmo ano, algumas prefeituras em alguns estados do Brasil, como na Bahia, foram autuadas por seus TRE´s (Tribunais Regionais Eleitorais) por prática de estelionato eleitoral. Ainda antes, em 2016, o prefeito de Nova Viçosa (BA) foi afastado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder e estelionato eleitoral. Prefeito e vice-prefeito foram afastados por proporem descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Ainda em 2019, o prefeito Valmir dos Santos Costa (Valmir de Francisquinho – PL), de Itabaiana (PB), foi alvo do MPE (Ministério Público Eleitoral) por abuso de poder durante a campanha eleitoral de 2018, quando ainda era prefeito, e seu filho, Talysson Barbosa Costa, concorria a deputado estadual. Na ocasião o prefeito foi acusado de articular um suposto esquema fraudulento para desviar recursos públicos originados do pagamento de impostos, a exemplo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e até taxas cobradas a feirantes para uso do espaço público.
Mesmo com essas denúncias nas cortes eleitorais superiores na ocasião, o programa da administração alfenense seguiu seu curso. Na época, não parecia nada anormal, mas com o tempo o projeto foi afunilando e passou a beneficiar empresários próximos e apoiadores do então prefeito, como os casos dos supermercados Pinheiro e Lacerda.
Bizarrices
Agora, o ainda em vigor “Bônus Social” do ex-prefeito Luizinho causa certa confusão e mais atrapalha do que ajuda. “Você vai pagar o IPTU no supermercado e o supermercado te dá esses bônus equivalente ao que você pagou de IPTU. Aí você volta com esses bônus lá na Secretaria (municipal) de Fazenda. Aí o prefeito distribui esses bônus para centros de ações sociais. Ao meu ver, esse dinheiro parece que não entra na contabilidade da Secretaria de Fazenda do município”, suspeita o ambientalista Itamar Silva.
A bizarrice, nesse caso, é que o imposto pode ser pago diretamente nos escritórios administrativos dos supermercados Lacerda e Pinheiro, e não em uma agência bancária do governo como a Caixa Econômica Federal ou Bando do Brasil, mesmo que esses estabelecimentos tenham agências credenciadas desses bancos em suas unidades comerciais.
“Lá no mercado (Pinheiro) tem uma casa lotérica. Fui pagar o IPTU e imaginei que eu ia pagar na casa lotérica. Mas fui orientado a pagar no escritório do mercado. Você pode pagar em dinheiro, no cartão ou em PIX. No meu caso, paguei em PIX. O valor era de R$ 411,98. Mas como os bônus eram de R$ 50 e R$ 100, tive que pagar R$ 400 redondo. Pouco tempo depois, tiver que pagar a diferença desse IPTU em dinheiro na casa lotérica”, reclama Itamar.
Em resumo, esse “Bônus Social” é um complicador para o cidadão alfenense, pois ele poderia pagar o imposto diretamente nas casas lotéricas ou na Secretaria Municipal de Fazenda em dinheiro. Mas o acordo entre a prefeitura e os supermercados Lacerda e Pinheiro permite que sejam pagos não em uma instituição financeira, mas em um escritório que, em tese, não estaria habilitado para receber tributos municipais. A proposta original do programa foi distorcida, pois beneficia apenas dois estabelecimentos comerciais, e não o “comércio local” como prometido originalmente.

コメント